terça-feira, 18 de novembro de 2014

à minha querida Rita | #7 | 2014

vivíamos em uma convivência pacífica e espiritual. tinha mais respeito por ti que gregor samsa jamais teria conseguido de sua própria família: tu não me machucavas, eu não te machucava, por milhares de vezes que nossos caminhos se cruzassem ao longo dos dias.  ter-te por perto afagava a minha solidão e distraía meus pensamentos; me encantava a tua velhice pré-histórica, tua evolução desde estes tempos imemoriais até estes meus dias modernos. meus hábitos proviam-te conforto e alimentação. era quase amor, nós duas. mas um acidente acabou por separar-nos irremediavelmente: ontem à noite, tão irresponsável (!) fiz uma sessão de cinema caseiro, comi e bebi sem sequer pensar em tua existência e dormi sonhos que fariam a qualquer um sorrir. e hoje pela manhã, descobri-te afogada, minha querida barata (!), em meu copo de coca-cola. 

memória de vida passada em signisciência