sábado, 27 de setembro de 2014

erotomania | #6 | 2014

mais um pequeno lapso erotomaníaco, eis o que vai se tornando diário: observar atentamente e em plano de fundo todo e qualquer movimento seu -- para que direção você se vira, o que faz as suas sobrancelhas se erguerem em surpresa ou o seus lábios se franzirem em reprovação. cada gesto é acompanhado de perto, mas como quem não está nem aqui. e não apenas. perceber a contenção e o relaxamento do meu instinto de toque, as brechas da comunicação: tudo é revisto atentamente, tudo é deliciosamente destrinchado por mim no escuro do quarto. minha terapêutica exige que eu explore os lapsos cuidadosamente, veja bem, como quem degusta um vinho raro, e dessensibilizo-me do estímulo que você é ao mesmo tempo em que analiso a sensação de estar em contato com seu corpo nos momentos casuais e que passam despercebidos aos seus olhos. e não apenas. rever em flashes a cor exata dos seus olhos, a forma exata da sua boca, a textura exata da sua pele, enquanto ensaio minha razão para o próximo encontro --  para que eu não reaja ao ver seu rosto ao vivo, não me traia em meu discurso. mas já que posso cantar você ausente, reúno versos aqui e ali em minha playlist portátil para dedicar-lhe em segredo, e sigo feliz por saber que o amor é relativo, que a mágica é possível e que tudo é permitido (até beijar você no escuro do cinema quando ninguém nos vê).

memória de vida passada em signisciência