sábado, 2 de outubro de 2010

aleatoriedades da máquina

I
corra!
esqueça sua máquina andante
e sinta apenas o odor das flores.


II

naquele palco ele era tudo, era o centro do mundo, o umbigo feliz de Deus, capaz de qualquer façanha, motivo de riso e de choro, alegria personificada em em cada gesto, em cada frase. mas era só a cortina se fechar sob o turbilhão de aplausos que ele voltava a ser só mais um homem triste e ridículo, com seu rosto pintado de branco e suas calças largas, com suas contas a pagar e seus desamores. desejava ver que nunca acabasse a apresentação, que aquela noite fosse eterna, que as luzes não se apagassem e que todas as pessoas viessem a vê-lo, lotando as cadeiras e obrigando o dono do estabelecimento a transferir o show para a rua e todos o veriam, no esplendor do se talento, até que ele caísse, morto pelas apresentações sem fim, esticado no meio da rua, de nariz vermelho e chapéu coco, e uma menina sairia do meio da multidão, colocaria uma margarida em seu chapéu e todos voltariam felizes para suas casas, acreditando que ele apenas dormira porque cansou desse mundo babaca.
(caiuã buscariolli)


III
íamos ao circo
(nós três)
mas o palhaço morreu.

na lona do circo
apenas seu chapéu-coco azul anil
e algumas margaridas


III
já não vejo dor em seus olhos
nem vida - que era apenas reflexo de lágrimas
hoje, vejo o brilho natural de quem vê
vida na vida

memória de vida passada em signisciência