quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

meu querido parasita | #2

dizem que ser mãe é padecer no paraíso. eu concordo, é uma felicidade constante imaginar você em meu útero, em meus braços e em todo o vetor da minha vida; é, sim, um paraíso.  eu não sei se você, em estado embrionário,  já consegue entender o que significa "padecer", mas é o mesmo que sofrer de dores. e essa é a parte que ninguém explica realmente nesse ditado. sempre pensei que era o fato de sofrer psicossocialmente com todas as pressões de ser mãe, apenas, com todo o trabalho de se criar uma criança. mas não é apenas isso: fome que causa enjoo que gera o vômito,  que aumenta a fome e a indisposição à comida. após comer, indigestão por horas por qualquer grama engolida, mais enjoo causado pela indigestão, e logo em seguida, fome novamente, porque nada ficou. e tome-lhe a chupar limão, gengibre, água com gás e comer no seco pra segurar a indigestão. comer no almoço e no jantar o mesmo prato? não dá, não causa o menor prazer. ou tome-lhe a substituir o almoço, já despejado no encanamento do esgoto por goiabada com creme de leite. e pra passar a fome sem ter indigestão, leite, suco, água de coco, refrigerante. e assim, vai. ou quando penso que estou alerta e em cinco minutos de filme, meus olhos pesam e preciso dormir. ou quando mesmo sem estar fazendo absolutamente nada, sinto a dor de sentir você crescer, empurrando meu útero, que só sabia mexer em círculos, e agora está mexendo em sentido de crescimento, causando a boa e velha distensão muscular de quem começou a malhar agora. achei que ainda teria o prazer de dormir de bruços até pelo menos você decidir me dizer se é menina ou menino, mas você nem tinha dedos da mão ou intestino e eu já tenho que dormir de lado. mas afinal, melhor padecer no paraíso que vivificar no inferno. 

memória de vida passada em signisciência