O que dizer de uma mulher que faz de tudo para conseguir o
que quer? O que dizer de uma mulher que para proveito próprio, produz o inferno
alheio? Eu a chamaria puta, mas outras diriam “é determinada”, a depender da
noção de caráter que tenha o indivíduo.
Gostaria de não me importar. Nem com a sua arrogância, nem
com a mau caretice dela. E me importo. É como ver duas pessoas, feitas uma para
a outra, e eu, o terceiro travesseiro esperando para fazer-lhe feliz. Porque eu
poderia. E fiz. E se você cresceu, eu estava lá, de empuxo. E fui devolvida
assim. Mas virão outros dias, amigo, e nestes, talvez seja você quem olhe com
inveja para o rapaz ao meu lado, pensando: “esse canalha não vai saber fazê-la
feliz como eu fiz”, e há de ser o caso de ser minha alma gêmea. E então, que
restará senão o amargor na espinha? Com ferro será ferido.
Mulher dói quando perde o coração, nunca vi. Foi assim:
naquele lugar que nos conhecemos, ela
apareceu, a Santa Virgem Maria, dando estrela e seguindo rimas. Eu, polida,
permiti passagem, e fiquei com o carma. Ela, pensou-me mulher forte e esperta,
e não uma tartaruga que sou, e fingiu-se ladrão (e essa é a mais forte
acusação) quando eu pensava há mais alguém entre nós. Nunca se declarava a mim,
mas usava-me sobremaneira. Meus ossos batiam e ele roncava, e jamais passaria
pela minha cabeça ser ela a bruxa. Acontece que a bruxa era mulher e tinha
desejos, e foi assim que, determinada, acabou meu romance. Ele faz-se de
inocente ou é inocente de fato? Capitu às avessas, meu coração está aqui,
pensando que um dia ele me verá bem e pensará em ficar comigo. E nesse dia, não
sei se cederia aos seus encantos de homem bruto a ser lapidado. Não quero um
coração de diamante, duro e inexorável. Nem seus discursos batidos.
Quero um
flitz paralisante, um qualquer.
Mais imagino. Imagino o dia em que toda essa verdade vier à
tona, a tua cara de otário (pelo perdão da palavra, é o que foi feito de ti),
pesando o meu lado da história e imaginando o que seria feito de nós se houvesse
coragem em teu peito de leão. Um dia a verdade que ronda apenas a minha mente,
hoje, virá como um índio, nu e sem vergonhas a mostrar, impávido como Mohammed
Ali. E neste dia, eu vi. Meu sorriso se estampará, e talvez, quem saiba, eu
veja tua inocência. Ou minha burrice. Ou o perdão dela (ainda que eu prefira os
vestidos).
E enquanto isso, ela vai usando minhas roupas, a caráter, e
eu a procuro para esmurra-la a face. Jamais teria coragem de tirar essa imagem
da sua essência enquanto imagem. Seria preciso antes que já soubesses, para
apoiar a mim, deixando-a largada ao chão e vindo nu para minha cama.
Não é um pedestal. É uma questão de honra.