a Davi,
eu fui
amor, não duvido disso. do pensamento à ação. mas apenas alguns
poderiam acreditar que amar é um lago translúcido, no meio de uma
bela floresta. os mais bobos ririam: "pois então é um pântano",
apenas para contradizer. "um mar, um rio".
o amor é
mais como uma salamandra brincando num mangue. e aqui se vai toda
minha inspiração pra dizer que amei e não saberia metaforizar de
que forma. e do amor concluo que dói. tudo isso de se entregar ao grau
mais íntimo do riso e da dor, sem esperar nada em troca, matematicamente falando, faz caber apenas um amante no esquema. ao outro,
todo o enjoo e enfado. não pra dizer que o outro, às vezes,
preguiça de exercer a função catalisadora de amante, mas é
que todos querem a posição da entrega. e novamente, amei. exerci a
função catalisadora de amante. dei tudo de mim.
deveriam
ter avisado aos jovens apaixonados: por favor, não se entreguem. não
mostrem ao outro a tal dor íntima onde vocês residem: seu amante pode
ser grego. e aos gregos, apenas a beleza é essencial, o lodo de onde
surgem as flores de lótus podem ser dispensadas ao pintar um
quadro. todo espinho pode ser raspado das rosas, e evita-se desenhar
abelhas perto da flores nectarosas por definição, pois muita gente
é alérgica às picadas dos zangões.
enfim, esse amor era como um temporal de março, naturalmente cheia de lágrimas
quentes misturadas às gotas geladas da chuva. e, com medo de se
molhar, talvez o mocinho tenha se apressado em comprar o melhor e
mais largo guarda-chuva. óbvio que a escolha não tinha nada a ver com andar
de mãos dadas com ela debaixo d'água, pisando nas poças e rindo
dos rios que os carros lançam. o guarda-chuva lhe servia apenas para
não lhe molharem os sapatos novos. e durante o temporal, ficaram
assim: ela em casa, pensando nas gotas coloridas que a chuva provia,
e ele, exigindo a solidão seca para seus sapatos novos.
e daí,
se chovo? não te conto o milagre das gotas coloridas?
Luisa
Carolina