terça-feira, 26 de abril de 2011

carta ao pai

porque vê  cada palavra que penso como o plano mais elaborado do mundo? e daí que eu pense em mudar de casa, em morar em outro lugar, me desenvolver só. você nunca pode me deixar em paz? é fácil mudar a sua percepção sobre mim da forma como o convém. não sou criança, não sou adulta tampouco, não me faça escolher um sentimento só, não me force a viver sob seu comando emocional, pare de tentar controlar -- 'você sabe que eu te amo, que é pra eu bem'.  é fácil dizer isso quando é você quem põe comida na mesa, quem paga as contas, que vê a casa enquanto um ambiente só seu. onde está o amor, nessa hora? em respeitar que existem duas pessoas com humores diferentes, aqui? e quando é que eu vou poder me sentir livre pra dizer 'mas eu não te amo, desculpa, porque se isso for amor, com certeza não está entre a gente. pare de acusar que eu perdi minha mãe por dizer a verdade, porque essa é a última coisa que eu tenho, pare de tentar me prender emocionalmente a você. eu não me importo com o fato de não ter mais minha mãe, e começo a perceber que até isso é culpa sua, em certa parte. ser sua filha, consome mais tempo e emoções minhas do que você imagina. 

aí, fica fácil dizer: vá, saia de casa, more com seus irmão, more só. mas ainda deixa, enquanto provocação, o ar de 'eu não posso viver sozinho', ou de 'você não conseguiria viver bem estando lá', ou, 'eu sei que você vai acabar com a relação entre seus irmãos'. é fácil pra você, velho, ver perspectiva no seu passado, se orgulhar das coisas que já fez. mas é difícil pra mim não ter perspectiva emocional em minha vida, e ficar sempre voltando às suas críticas, aos defeitos que você me impôs, à solidão que você me prometeu. 

não é o que eu quero, sacou? eu não quero fugir da minha própria casa, da minha própria vida pra te ver desdenhando de cada movimento meu, ignorando cada sentimento que eu carregue apenas pra dizer "eu sei o melhor pra você", quando sabemos que apenas ela sabia as aflições do meu peito. 

eu não suporto mais a mágoa que minha família carrega de mim. uma tortura constante, em relação à morte de minha mãe, à tudo. inveja de quem não viveu a abertura, às duvidas que eu vivi com ela. eu não sou o centro do problema, nem quero atenção de ninguém, parem de fingir que se importam comigo - é pra melhorar a noção que vocês tem de si mesmo? 

memória de vida passada em signisciência