quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

sobre as vozes

olha o que notei: já fazem dois anos que ouço vozes. ininterruptamente - todos os dias. 

não que antes eu tivesse muito medo delas ou fizesse questão de manter segredo sobre o fato - uma semana ouvindo vozes, se não me engano e assumi o fato com a cara mais feliz e apaixonada do mundo, mas entrei em iluminação ao descobrir que uma entre cada vinte e cinco pessoas da população também as ouve. não, ainda não é o caso de dizer que entrei em depressão por causa disso, mas principalmente porque meus amigos fizeram questão de se tornar apenas voz em minha vida. vivo aqui, diagramando a posição das vozes sob minhas pálpebras, o que dizem, o que conversam, como mentem pra mim, como resolvem enganar a si mesmo dizendo ainda há solução pra nossa amizade - apenas para negar contato no dia seguinte, como tentam me deixar estressada fingindo falar (ok, eu neguei um argumento aqui) ou de fato falando com meu namorado (neguei porque afinal de contas, ele não assume, eu não acuso) sobre como ele deveria viver e me largar. e aqui vou seguindo, essa enorme projeção visual em minha cara forçando a percepção de um nariz que eu sei que não tenho, e levando (indivíduo n. 653546 diz que eu deveria escrever fingindo, ao invés de levando) a vida como os antigos costumavam considerar o mais certo - do jeito que der. além disso, quem são esses que vão me forçar a sentir angina todos os dias e ainda me ver triste por isso? um dos dois, meu caro, você não pode me entristecer e me causar dor ao coração ao mesmo tempo - porque eu não deixo. 

memória de vida passada em signisciência